quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

A Prima do Saci - Capítulo XVIII: Miss Sardine na cozinha

Episódio de Hoje: A Prima do Saci


Capítulo XII: Miss Sardine na cozinha


Comunicado: Novo formato

Por fim, Narizinho conseguiu o que queria: ser madrinha de casamento da Emília. Após acabada a guerrinha das duas, a boneca foi para o quarto com Dona Aranha, para ajustar o vestido de noiva; e a menina foi mostrar o sítio ao Príncipe Escamado.

Enquanto o soberano passeava com a neta de Dona Benta, o povo de Águas Claras se espalhou pelo sítio. Miss Sardine, por exemplo, entrou na cozinha e virou amiga íntima de Tia Nastácia. Enquanto a negra preparava cheirosos quitutes para a festa de casamento, a sardinha remexe em tudo na cozinha.

A cozinheira, risonha, adverte:

— Deixe de ser curiosa, menina! Um dia você ainda vai se dar mal por causa desta sua curiosidade!

Mas a sardinha não lhe deu ouvidos e mergulhou dentro do vidro de farinha. Nastácia ficou aflita, e estava à ponto de virar o vidro de cabeça para baixo, quando Miss Sardine apareceu. Rindo, a sardinha levou um dedo (não me perguntem como uma sardinha tem um dedo) aos lábios e experimentou a farinha.

— Hmm... — disse ela, pensativa. — Estou reconhecendo este gosto! O que é, Tia Nastácia?

— Farinha — respondeu esta. — Vem lá da sua terra.

A sardinha saiu do vidro de farinha com um mergulho para o vidro de açúcar. Um tempinho mais tarde, apareceu rindo e passando a língua em volta do rosto.

— Ai, que gostosura! Nunca provei nada melhor! O que é?

— Açúcar — respondeu a negra, tirando a sardinha de dentro do vidro e a balançando sobre a tigela da massa de bolinho, para que caísse o açúcar na massa. — Serve para adoçar a comida, o café, o suco e para colocar na água para a pessoa que tomar ficar calminha. Entre outras coisas mais...

Ela pôs Sardine de volta na bancada, e pegou uma pitadinha de pimenta do reino em pó, e foi jogando-a aos pouquinhos numa panela, para temperar alguma coisa qualquer. A sardinha ficou impressionada com a substância e deu um mergulho em direção ao vidrinho com o pó.

A cozinheira mal teve tempo de berrar:

— Não! Não faça isso que arde o olho!

Mas Miss Sardine não a ouviu: mergulhou dentro do vidro, e não teria voltado mais se Nastácia não corresse tal qual doida varrida para acudi-lá. A negra foi enfiando a mãozona no vidro, e procurou a sardinha. Sentindo alguma coisa se mexendo, pegou-a pelo rabo: era Miss Sardine, soluçando como quem tem tosse de cachorro.

— Acuda! Estou cega! — berrou se lamentando, em meio à lágrimas e soluços.

— Calma, Sardine menina! É só pôr uma aguinha nesses olhinhos e passa — disse a velha, tentando acalmá-la.

Ela abriu a torneira da pia, e pôs a sardinha debaixo d'água. A sardinha ainda se lamentava, e não conseguia abrir os olhos, dizendo estar cega. A preta esfregou os olhinhos da criaturinha, ao som de "Santa Lúzia passou por aqui,..."

Depois, pôs a sardinha para secar na janela. Miss Sardine daqui à pouco arriscou abrir um olho. Vendo que enxergava, abriu o outro. Piscou, piscou, fechou um, fechou outro, e atirou-se em Tia Nastácia. Agarrada no gordo pescoço da negra, beijou-a na face diversas vezes sem parar.

— Ah! Obrigada, Tia Nastácia! Obrigada, obrigada, obrigada! — Agradeceu a sardinha. A negra riu:

— Ah, que isso, filha! Não foi nada de mais! — disse, retirando com a escumadeira uns bolinhos da frigideira e pondo-os sobre uma bandeja forrada com guardanapos. A sardinha viu o óleo na frigideira chiando e pulando e se aproximou, quase encostando a cara na frigideira. Achou-o tão o bonito!

Tia Nastácia deu um berro de puro horror e agarrou a sardinha pela cauda, tirando-a de perto da frigideira.

— Sai de perto dai, sua sardinha curiosa! — ralhou a cozinheira.

— Por que, Tia Nastácia? — perguntou Sardine, pulando das mãos da mulher para mergulhar em uma peneira de pipocas. Ela emergiu em meio as pipocas, jogando uma para a boca e a comendo. — É tão bonita essa aguinha que chia e pula! Para que serve essa coisa?

— Ãh... bem... — a negra não sabia como começar. Explicar o que era uma frigideira para uma sardinha, imaginem! Por isso, resolveu inventar uma mentira — Frigideira é uma piscina de água que chia e pula, como você mesma disse!

— Ah, que bonito! — Disse a sardinha, batendo palamas. Ela mergulhou da peneira de pipocas para ao lado da frigideira, e pôs uma nadadeira ali dentro. Em seguida, um berro — Ah! Eu me queimei! Está quente! Muito quente!

Tia Nastácia a agarrou pela cintura e a botou debaixo da torneira da pia, para tomar outro banho. Em seguida, fez um curativo na sardinha chorona.

— Viu, sua sapeca? Se queimou! A "água" da frigideira é quente! Queima a mão da gente! Hunf! Vai ter que ficar com curativo!

— Obrigada, Tia Nastácia — disse a sardinha, fungando. — Mas um dia ainda ei de pular numa frigideira! É só esperar a água esfriar!

A negra teve que morder a mão para impedir a risada que vinha com a gengivada inteira de fora. Ai, essa Sardine!

Continua...

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